06 Junho 2023
"Uma contribuição fundamental para o desenvolvimento econômico das nações foi a Teoria do Valor Trabalho. Smith se opunha ao mercantilismo, que era caracterizado por políticas protecionistas", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 05-06-2023.
“Se alguém quiser reduzir o ser humano a nada,
basta dar ao seu trabalho o caráter de inutilidade.”
Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
Adam Smith é um dos autores mais influentes e mais debatidos da modernidade. Ele nasceu em 05-06-1723, em Kirkcaldy, na Escócia, há exatos 300 anos. Morreu em 17-07-1790, em Edimburgo, capital da Escócia.
Seu livro, “A riqueza das nações“, publicado em 1776 (ano da Independência dos Estados Unidos), é amplamente considerado um marco para a compreensão do funcionamento do sistema econômico, sendo precursor nos estudos da relações entre o trabalho, a produção e o valor das mercadorias. A obra de Adam Smith tem sido objeto de inúmeras leituras, sendo aplaudida por uns e criticada por outros, mas sempre servindo como ponto de partida para diferentes escolas do pensamento econômico.
Capa de "A riqueza das nações", de Adam Smith. (Foto: Reprodução)
Uma contribuição fundamental para o desenvolvimento econômico das nações foi a Teoria do Valor Trabalho. Smith se opunha ao mercantilismo – sistema predominante na época – que era caracterizado por políticas protecionistas, como altas tarifas e restrições ao comércio internacional, com o objetivo de acumular riquezas e fortalecer o poder das elites ligadas ao aparelho do Estado. Os mercantilistas acreditavam que a riqueza de uma nação estava diretamente relacionada ao acúmulo de metais preciosos, especialmente ouro e prata, através de uma balança comercial favorável. Por exemplo, o exclusivismo comercial e a escravidão eram a base do mercantilismo português que explorou o Brasil por mais de 300 anos.
Adam Smith começa o livro dizendo que o trabalho produtivo e livre é a fonte da riqueza das nações. Na Introdução ele diz: “O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais que consome anualmente” (p. 35). Portanto, ao invés de acumular metais preciosos por meio de exploração de terras de outros povos ou por meio de uma balança comercial superavitária, o importante para a riqueza das nações é ter uma força de trabalho potente e produtiva.
O capítulo 1 é dedicado à Divisão do Trabalho, onde Adam Smith mostra que o maior aprimoramento das forças produtivas é o resultado da divisão do trabalho, que só é possível em sociedades onde haja uma escala adequada de produção e de trocas, uma vez que o intercâmbio de bens e serviços é essencial para a atividade econômica.
Segundo Smith, ao dividir uma tarefa complexa em várias partes e especializar trabalhadores em cada uma delas, é possível obter uma produção maior e mais eficiente. Ele ilustrou esse conceito com o famoso exemplo da fábrica de alfinetes: enquanto um único indivíduo provavelmente teria dificuldade em produzir um grande número de alfinetes sozinho, quando o trabalho é dividido em diferentes etapas, com diferentes trabalhadores especializados em cada uma delas, a produção pode ser multiplicada muitas vezes.
A especialização resultante da divisão do trabalho permite que os trabalhadores se tornem mais hábeis em suas tarefas específicas, ganhando experiência e aprimorando suas habilidades ao longo do tempo. Isso leva a um aumento significativo na produtividade, uma vez que os trabalhadores podem se concentrar em tarefas específicas em que são mais eficientes e rápidos. Além disso, a divisão do trabalho também facilita o desenvolvimento e o uso de máquinas e ferramentas especializadas. Com trabalhadores focados em tarefas específicas, é mais fácil desenvolver métodos e tecnologias que aumentam a eficiência e a produtividade da produção.
Smith argumentava que a divisão do trabalho não se aplicava apenas ao nível individual, mas também aos níveis regional e internacional. Ele destacava a importância do comércio entre diferentes regiões e nações, onde cada uma poderia se especializar na produção daquilo em que era mais eficiente e trocar os excedentes com outras regiões. Essa troca permitiria um aumento geral na riqueza e na variedade de bens disponíveis.
A importância da divisão do trabalho na obra de Adam Smith é evidente na ênfase que ele dá a esse conceito como um dos principais impulsionadores do crescimento econômico e da prosperidade. Suas ideias influenciaram o desenvolvimento da Revolução Industrial, que viu a especialização e a divisão do trabalho serem amplamente adotadas nas fábricas e indústrias. Até hoje, a divisão do trabalho continua sendo um princípio fundamental na organização e eficiência da produção em diferentes setores da economia.
“A riqueza das nações” foi publicada em 2 volumes e 5 partes, e os dois volumes na edição brasileira possuem, respectivamente, 415 e 350 páginas. A abrangência do livro é monumental e atraiu aplausos e críticas, mas nunca indiferença.
Segundo a filósofa Hannah Arendt, a condição humana está relacionada a três atividades fundamentais que caracterizam a vida na terra: “labor”, “trabalho” e “ação”. Cada uma dessas atividades está diretamente relacionada às condições básicas nas quais a vida foi dada ao ser humano. O trabalho muda ao longo do tempo e se reinventa, mas não existe nenhuma sociedade sem trabalho e o fim do trabalho é apenas uma ilusão.
Certamente haverá muito debate e inúmeras resenhas críticas sobre “A riqueza das nações” no aniversário de 300 anos do nascimento de Adam Smith. Mas um aspecto que não pode ser escanteado é a Teoria do Valor Trabalho. Infelizmente ainda há quem ignore que o trabalho é um direito humano básico e, ao mesmo tempo, a fonte da riqueza das nações. Adam Smith está aí para nos lembrar essa singela constatação.
Smith, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
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Os 300 anos do nascimento de Adam Smith. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU